Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.
Haley Fohr previu tudo isto? A sua máscara no início do ano era mais do que uma máscara, um sinal? Duvidamos, porque Haley Fohr, enquanto Jackie Lynn, estava preparada para uma digressão de arromba para acompanhar este seu "Jacqueline", um álbum nómada, para fazer sair de casa e ir à estrada. Enfrentar o desconhecido e o medo. Um alter ego para enfrentar um novo estilo, sem devidas distâncias de Circuit Des Yeux. É um jogo ao contráriio, Fohr cria outra pessoa para se separar da outra mas na essência são a mesma, com uma outra banda. Uma forma de despistar o ouvinte, metê-lo noutro lado. Fomos a muitos sítios sem sair de casa com este "Jacqueline", um dos primeiros discos a bater no início do confinamento.
Jackie Lynn. Circuit Des Yeux. Haley Fohr. Tudo a mesma pessoa, reconhecíveis pela voz e assimilação da madrugada. Em 2016, como despedida da Thrill Jockey, Haley Fohr deixava uma ideia incompleta em formato 12”, assinado por “Jackie Lynn”. Agora, quatro anos depois, na Drag City, três anos após a viagem inesquecível de “Reaching For Indigo” (Circuit Des Yeux), completa a ideia Jackie Lynn, com este “Jacqueline”, um longa-duração em cooperação com o trio Bitchin Bajas, Cooper Crain, Rob Frye e Dan Quinlivan. Jackie Lynn: uma ideia, uma personagem estranha em digressão por discos e clubes de locais de fronteira, que podiam habitar filmes sobre noites de tensão.
O esforço é visível logo no segundo tema, “Shugar Water” soa a “Goodbye Horses”, e assim situa o clima permanente de ficção, fumo e mistério. Entre essa existência luxuosa-decadente, Haley aspira a canções, expiando o seu anterior álbum enquanto Circuit Des Yeux. Uma viagem pela Americana em ambiente disco, disco queen do deserto. Uma viagem, porque Jackie Lynn é uma artista na estrada, que processa essas viagens, em histórias e memórias aprovadas pelo tempo. E “Jacqueline” é um disco de estrada que ficou sem estrada em 2020, uma álbum de outro tempo, outro lugar, que só faz sentido em 2020. Uma viagem para recordar.