Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.
Os Yellow Swans estiveram lá, durante um período em que o noise e o shoegaze se confundirem, num momento em que uma certa música à margem ainda não era tão aceite na electrónica pura e dura. Não viveram fora do seu tempo, bem pelo contrário: a sua música só teria lugar na primeira década do século XXI, onde manifestações puras de noise, a explosão das compras online e a procura por edições com um lado caseiro/manual – e a sua perecibilidade – e vidas em digressão possíveis numa Europa com capitais menos gentrificadas andavam de mãos dadas para criar som livre e espontâneo, pronto a ser consumido a cada dia como uma novidade.
E havia mentes abertas a isso. Uma geração norte-americana de músicos que esqueceu barreiras, fundou ideias que ficaram algo perdidas na década seguinte.
Os Yellow Swans estiveram lá.
Foram ouvidos por quem esteve presente e deixaram um património que poucas vezes é lembrado (em parte porque Pete Swanson, uma das metades, desligou-se de “fazer música”, para ter um papel mais activo enquanto promotor e divulgador de música). Reouvi-los dez anos depois de terem terminado, redescobrir discos como “Going Places” e “Being There” foram das coisas mais inesperadas num ano de coisas inesperadas. É tão bonito quando o ruído nos faz chorar. Ainda mais quando nem ouvimos o ruído, só o silêncio que provoca. “Being There” é uma coisa maravilhosa.
Poucas vezes um disco de drone/noise, a tocar tão alto, soou tão silencioso. Não é um problema do sistema, dos vossos auscultadores ou da aparelhagem. É o absoluto som de despedida, em contínuo, que se ouve nas quatro partes de "Being There".
Poucos discos captam tão bem isto. Poucas mentes, mesmo a cantar, a chorar por cima da voz, o expressaram tão bem. É o colapso da despedida, o desalento, o vazio, a pura beleza da mentalidade do bocejo da tristeza. E isto acontece com dinâmicas que ultrapassam a essência do drone/noise, é um disco muito mais de shoegaze e slow-techno do que à partida parece.
"Being There" engole-nos, come-nos. Destrói-nos de forma incrível. E sabe tão bem. Voltar a viver os Yellow Swans, como se fosse a primeira vez, 10 anos depois? Incrível. Conhecê-los agora? Nem imaginamos. Ao lado de "Going Places", "Being There" é uma das mais importantes reedições do ano.