Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.
Não um mas dois álbuns de Autechre. Um a seguir ao outro, um anunciado pouco depois do outro sair. “Sign” e “PLUS”, dos dois escolhemos o segundo para destaque, pela importância da surpresa e a decisão por esse elemento como um factor de edição em 2020.
Quando todos os modelos de divulgação soam a esgotados, a surpresa é um risco que nem todos podem tomar, nem mesmo alguém com valor sedimentado.
Sobretudo num ano de constante incerteza.
E os Autechre porque ao longo deste ano, antes, durante e pós-tudo, foram uma presença constante na loja, nas selecções de descobertas em armazém que fomos fazendo ao longo do ano.
""Sign" tem sido celebrado em 2020 como um certo retorno de Autechre a padrões melódicos, enquanto "PLUS" reestabelece a tradição abstracta que deu nome à dupla Booth / Brown. Tudo aqui é reconhecível / familiar e, ao mesmo tempo, o seu exacto oposto. "marhide" excita o freak analógico interior para desfazer ilusões num mar de estática (digital?); em 14 minutos, "ecol4" explica a assinatura de Autechre, aquele groove desviado do centro, o tributo à música concreta, a dissonância quase melódica, a narrativa sónica e, até, para quem conhece um pouco da história, as suas origens no hip hop / electro; "lux 106 mod" reflecte luz em modo prismático, constante evolução e subida no nível de emoção até à conclusão abrupta e sem sentimentalismo. ETC. em direcção ao desconhecido, durante o resto de um álbum que termina com sugestão de clube, a batida em desconstrução e evaporação progressiva, como se se tratasse de um modelo digital para o que aconteceu em 2020. Pós-batida, a faixa esvai-se lentamente em suaves mas brutas pulsações."