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2020 #23 - "Vest"

Posted by Flur Discos on

Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.

Eis o que se passa: é fácil nestas alturas do ano perdermos o gosto para os discos que surgem e ressurgem nas listas, pela forma de consenso que se cria a ideia de "melhor". Consenso e consenso e existem muitas formas de consenso, o que não existem é muitos discos como "Vest". Não sei se ouviremos mais falar das Mermaid Chunky, se alguma vez terão uma carreira. Mas raios, "Vest" é como se as ESG tivessem estado em estúdio com os This Heat, com os Flying Lizards a segredarem umas dicas. Brilhante. Este é daqueles discos do qual somos obrigados a fugir da missão e não ter qualquer história a contar de 2020. Ouvimos isto em setembro, ficámos rendidos, absorvidos, apaixonados. Talvez isso diga algo de 2020.

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É quase uma tradição britânica, músicos que têm uma formação mais clássica alinharem por formas transformativas da pop. Na última década tem havido casos sonantes, como de Mica Levi ou Tirzah. A elas junta-se Freya Tate e Moina Leahy, um duo de Stroud, Gloucestershire, as Mermaid Chunky. Há aqui pós-punk, improvisação, música que se ouve como parte de uma performance, que tenta contar histórias de um quotidiano imaginário, entre amizades e um mundo que só existe em “Vest”, na concretização deste som e desta existência. Tudo aquilo a que podemos comparar as Mermaid Chunky parecerá um exagero: os Animal Collective do início? Mica Levi quando criava a pop mais relevante daquela altura com Micachu & The Shapes? ESG revisited? É isso, parece exagero, mas é assim que as Mermaid Chunky soam em “Vest”, um álbum de catarse e de uso sábio da sua formação clássica e de jazz em favor da pop. Parece música a brincar – é música que está a brincar – mas, simultaneamente, experimental, rica, sem limites e com uma sabedoria enorme em não saber explodir. Contida, portanto, fresca, nova, inocente e rebelde. É como se os 49 Americans tivessem renascido em Freya e Moina, mas com a precisão de saberem comunicar lindamente para o século XXI. Essencial. Uma bomba de cores. E detestável dizer que este é o grande disco de 2020 que vocês não conhecem. É condescendente e parvo. É daquelas coisas que odiamos no jornalismo. Mas isto não é jornalismo e falamos sempre a sério. Oiçam. É incrível."