Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.
Tal como tem sido tendência nos últimos anos, o mercado discográfico tem vivido – em parte – à custa de reedições. Algumas são escusadas. Mas uma grande parte são um ponto de partida para descoberta de artistas ou de discos que, por alguma razão, ficaram para trás: o contexto do tempo ajuda a valorizar música que noutra altura se ignorou. Depois há casos como a Keplar, renascida em 2020, que tem trazido para o formato vinil música que só havia sido editada em CD. O essencial “Multila” – na sua forma completa -, de Vladislav Delay, serviu de arranque, entretanto já houve o magnífico “Heroin”, de Stephan Mathieu & Ekkehard Ehlers, e em breve receberemos “Balance”, Frank Bretschneider & Taylor Deupree.
O segundo capítulo da Keplar fez-se com aquela que é a mais surpreendente – e sonicamente magistral – das suas reedições: a reedição de “Aix”, o álbum de 2009 de Giuseppe Ielasi. Música concreta orgânica, que enche o espaço de luminosidade e que é uma constante dança de sons e sentidos. Culpa nossa, não conhecíamos bem o trabalho de Ielasi e “Aix” foi um excelente ponto de partida para começar uma relação.
"Depois de há menos de 4 meses ter reeditado “Multila”, a segunda edição da renascida Keplar, enquanto KeplarRev – dedicada à redescoberta de música electrónica das últimas três décadas - é um álbum que pode ter passado despercebido em 2009. Editado originalmente na 12K de Taylor Deupree, “Aix” é composto por nove peças do compositor electro-acústico Giuseppe Ielasi. Os trinta minutos de “Aix” são um puro deleite de existência de som, enquanto trabalho de engenharia sonora e, sobretudo, de criação de rotinas de ambiente, evitando aspectos tradicionais da composição electrónica da altura.
Aqui, Giuseppe cria deliciosa melodias minimais através da fragmentação de sons, jogando com ideias de aleatoriedade e transparência. Em certos momentos é dado à repetição e, progressivamente, a uma espécie de efeito-espelho dessa repetição, criando peças que nos fazem perder na sua duração (entre os três e quatro minutos).
As melodias tão angularmente perfeitas desfazem a ideia que se está a ouvir electrónica / electrónica composicional e rapidamente remete o ouvinte para os campos da exótica ou da exploração mais ambiente da library. Ou da pop que mais agarra. Paisagens inesquecíveis. Uma das reedições de 2020 que iremos recordar várias vezes nesta década."