Organic Music Tapes Vol. 1
Tiago Sousa
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Organic Music Tapes Vol. 1
Um sinal de mudança na abordagem da criação – num primeiro plano – e da edição – noutro plano em Portugal – passa pela forma como se valoriza o mostrar essa música. Há uma geração (agora perto dos quarenta anos) que cresceu em estruturas reais de DIY e sem mitologia fundadora à sua volta (como existiu nos anos 1980s, num país desfavorecido de tudo), potenciada pela inexistência de editoras com uma estrutura virada para aí. Não é por acaso que, por exemplo, Tiago Sousa e os Niagara, pessoas dessa geração, tenham procurado caminhos alternativos para mostrar a sua música: os Niagara com os seus CDRs ultralimitados de música de laboratório e, posteriormente, ao aceitarem antologias – coisa rara por cá – desse trabalho na Discrepant e na Disciples (editora paralela da Warp). A série “Organic Music Tapes” constrói-se com um desejo semelhante, de música de laboratório com um propósito: de encontrar padrões orgânicos no piano e tornar isso num processo relaxado e meditativo (para o ouvinte). Tiago Sousa parte, claramente, de um ponto diferente de muitos dos seus contemporâneos – pela experiência e objectivos -, mas o plano de deixar-nos ouvir a sua procura parte de um desejo natural – ou naturalmente constituído pelo modo como cresceu musicalmente – de partilha. Se o trabalho de Tiago Sousa já é por si honesto, no primeiro volume das “Organic Music Tapes” vira estado de graça. O profundo êxtase mistura-se com beleza e contemplação. Intenso e sublime.