Galactic Supermarket
Cosmic Jokers, The
Mais uma das muitas sessões gravadas de forma directa, espontânea, no estúdio de Dieter Dierks. "Galactic Supermarket" é a encarnação que junta a formação original com as duas vocalistas Rosi Müller e Gille Lettmann. O disco conta com a típica fusão da síntese de Schulze e da guitarra de Göttsching a uma secção rítmica exemplar - fora as passagens de assumida excursão psicadélica, a secção de ritmo dá energia, movimento e funk, direcções concretas e certeiras às faixas, que cambaleiam lisergicamente por entre os grooves. Nos primeiros minutos há mais foco na síntese e no órgão de Schulze, que solam por entre as fissuras interestelares que se vêm abertas pela pujança sónica do grupo de improviso. Modulações na síntese, e as próprias cores que deles emanam, detêm a responsabilidade de drogar a música, convidando à viagem. Uma espécie de harmónica (melódica?) ouve-se também por entre as faixas captadas, trazendo a lembrança de música como a de Augustus Pablo, com sinergia inspiradora. A meio do primeiro "Kinder Des Alls", a música suspende-se e dá o palco somente a um pad celestial, quase religioso, que anuncia a vinda de algo incrível, poderoso - a suspensão de tudo, uma espécie de big bang, um reset. Sobra o órgão, as vozes processadas e prolongadas temporalmente, tornadas alienígenas, de Rosi Müller e Gille Lettmann, com um crescendo subtil arrepiante e leves embelezamentos de guitarra e percussão que harmonizam perfeitamente sobre este "ground zero" a meio do tema. Esta imprevisibilidade na maneira como se conduziam as jams são o "punctum" na música do grupo de improviso. Arrebatadores pela precisão nos timings: dos elementos retirados, dos adicionados, e da conjugação de todos em simultâneo. Bravo.