Animation
Darkness Darkness
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Já não sabemos se foi em 2021 ou 2022 que demos pela primeira vez com a editora "A Visiting Link". O primeiro disco, do autor Bees, já se encontrava esgotado na distribuição quando percebemos o potencial musical desse enigmático maxi que fazia lembrar os esforços da Acting Press no que à apresentação, design e música dizem respeito. A força desse primeiro disco foi tanta que nos dirigimos à Acting Press numa indagação acerca da identidade da Visiting Link - são vocês? perguntámos nós. A ausência de resposta confirmou parcialmente as nossas suspeitas. Mas fomos abordados para receber o novo de Darkness Darkness na nossa loja. Contentes, pedimos cópias do disco. Pela morada do remetente percebemos que A Visiting Link não é a Acting Press, mas sim um eco dessa linha editorial na Lituânia. Darkness Darkness, quase cosmicamente, alinha-se mais com as últimas emissões da Acting Press - abstracções puras, de uma distopia (ou utopia, dependendo da vossa sensibilidade e "leitura" dos sons), composta por percussões ruidosas, pads de sons atípicos, sequências alienígenas em sintetizador onde a ideia de ritmo vincado é substuída por um pulsar subtil, constante, sugerindo mais uma ideia de moção e menos uma ideia de dança. A música aqui feita parece emitida de uma estação espacial perdida numa galáxia longínqua, ou tentativas de comunicação pontilhista enviadas por entidades desconhecidas. Sensação semelhante à de ouvir um androide a exprimir emoção (alusiva também àquela cena do "2001 - Odisseia no Espaço"), "Exp Sample", o segundo tema do disco, e de longe o mais esquisito e intrigante, apresenta o que parecem ser captações de campo de um qualquer ruído de lixo espacial, baixo na mistura, que é pincelado de segundos a segundos com uns pads corais que, pelo seu carácter midi, garantem uma passagem pelo uncanny valley. Silêncios que dão lugar a ruídos, que por sua vez dão lugar a silêncios, como se tratasse de uma viagem interastral, sujeita a negrume, destroços e soluços, culminando numa transcendência espiritual aquando da chegada à meta. Disco que transmite bem a sensação de perda de sentido de direcção na imensidão do negrume no espaço - talvez também tenhamos essa leitura pelo nome do autor, mas "Animation" é um manifesto silencioso acerca do potencial cósmico da música que, a cada ano que passa, e em especial na música electrónica de dança, se vai perdendo mais e mais e dando lugar a uma ausência de identidade preocupante. A Visiting Link, a Acting Press e a Nduja (e todos os esforços do cabecilha Mammo) carregam orgulhosamente a tocha do futuro da música tecnofílica. Há pouca música "ambiental" assim - atrevam-se a descobri-la.
