Big Majestic
Ellen Reid
OUVIR / LISTEN:
CLIP1 - CLIP2 - CLIP3 - CLIP4 - CLIP5
Está tudo no título: "Big Majestic" é daqueles discos que, assim que arrancam, mostram-se como são, sem qualquer tipo de máscaras ou adornos. Lentas cordas sofrem, cantam e exasperam no tema-título, qual introdução ao épico que aí vem. Camadas sobre camadas, o ponto focal é a harmonia entre os instrumentos, que se sobrepõem, complementando-se e criando um cenário natural de serenidade new age - Reid conta até com a ajuda dos Kronos Quartet em duas faixas para atingir esse fim. No meio do cimento de Nova Iorque, a música de Reid ergue-se como um milagre, contrastando as cores naturais do céu infinito sobre os tons artificiais da cidade, a vida orgânica sobre a mecânica. "Big Majestic" é também um complemento à plataforma Soundwalk, criada por Reid, que permite ao utilizador receber diferentes tipos de música consoante a sua localização num GPS - o exemplo dado é o do passeio num parque, onde a app decidirá autonomamente qual a melhor trilha sonora para ilustrar o cenário em redor. Interessante? É sua própria forma de land art. Ao ouvir "Grand Majestic", percebe-se que cada tema é uma escapatória para o idílico, para um outro sítio melhor, paradisíaco, tranquilo. É new age e é ambient, distanciando-se dos contemporâneos ao focar a sua música num tema, contextualizando-a e promovendo uma mensagem coerente - se a primeira parte do álbum é um crescendo até ao cume, com o clímax pelo meio, a segunda metade musica a altura do regresso, fazendo-nos meditar sobre a utopia pela qual acabámos de passar. Arco narrativo forte, onde o sintetizador actua como o principal instrumento de transcendência, ou ascendência a um lugar melhor (como podemos ouvir em "Strawberry Hill Ascent" e em "Alone on Mullholland", os arpejos sugerem ascensão, nunca descensão, na cadência das suas notas). Um refúgio utópico, artificial porque não vivemos num mundo de ilusões, mas suficientemente credível para podermos fechar os olhos e imaginarmo-nos longe daqui. Culminação de todos os espaços verdes, todos os mares cristalinos e todos os outros lugares idílicos num só disco. Ideia de paraíso longe de religião, a não ser que a música seja o vosso objecto de devoção. "Big Majestic" é lindo.