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Destellos Del Éxtasis

Molero

Holuzam

Regular price €19,50

Tax included.

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Há um dom em saber transformar que deve ser apreciado. Em Junho de 2020 Molero era um desconhecido. Tirando gente próxima, amigos/conhecidos de Barcelona, poucos sabiam que também era músico. Corria o mito de um passado na alta finança, uma outra vida nos Estados Unidos (nunca clarificámos, preferimos o nevoeiro à volta do assunto). Aliás, a música também era um mistério para alguns deles, um assunto que falava nas saídas à noite e se assemelhava a um daqueles becos criativos que nunca se materializam. Com ele não foi bem assim. Havia um álbum, uma ideia. Teve o nome de "Ficciones Del Trópico". Mesmo quando não se compra a teoria, ouve-se o que inspirou Molero naqueles temas instrumentais. A base é uma ideia em segunda mão que os europeus (sobretudo) têm da Amazónia, das leituras e dos filmes que viram. Mas da base passa para outras coisas, ouvem-se pássaros, criaturas a correr, árvores em dança com a brisa, movimento, a ideia moderna de ambient é menosprezada a favor de música ambiente, que se transforma e fica cenário, um que nos envolve. Foi um daqueles discos de pandemia - pensem em "To Cy & Lee", de Alabaster DePlume, pensem em "Ficciones Del Trópico", de Molero -, duas edições físicas esgotadas, milhões de streams em todo o mundo. Bateu. Sair desta ideia num primeiro disco é complicado, pela expectativa do próprio e dos outros. Eis "Destellos Del Éxtasis", segundo álbum de Molero. Estamos quatro anos mais velhos. Uma sensação de que é o mesmo mas não é o mesmo. E isso é parte da dica aqui, parte da transformação: do que se vê e não se vê. Do mistério que é "Destellos Del Éxtasis". Vamos assumir que não havia mistério em "Ficciones Del Trópico", parte do segredo - da fórmula, se quiserem - era uma linha recta de empatia. Quando se começa a ouvir "Psicofluido Violeta", tema de abertura, a reacção é a de que há uma continuação, de que o horizonte de "Ficciones Del Trópico" ainda se vê. Conforme se move, arranca, sussurra, vai destruindo esse horizonte, afirma-se como coisa nova, imprevisível. É um tema comum ao álbum, a imprevisibilidade via transformação, o inesperado ouve-se em cada audição, a fórmula, sendo uma fórmula, não se repete. Tal como no álbum anterior, a identidade é confessada na capa. As formas de "Destellos Del Éxtasis" promovem uma ideia de música líquida, num movimento contínuo à procura de texturas e formas, que têm de encaixar ou forçarem-se a desencaixar do resto. Nem tudo tem de ser sobre servir, medidas certas, o não ter lugar importa cada vez mais. Se leram até aqui, eis a dura verdade: "Destellos Del Éxtasis" é o difícil segundo disco. Não difícil no sentido clássico da pop - que a coisa tem que se elevar ou que as bandas fracassam quando se esforçam para ser algo que não são -, difícil porque esperávamos que fosse fácil, imediato, como "Ficciones Del Trópico". Este exige algo de nós, como ouvintes, como pessoas: que sejamos contagiados por esta magia que sai da cabeça de Molero e nos faz estar em permanente contacto com a luz e a escuridão. Como se o lugar fosse a intermitência. Sair da Amazónia para um filme de David Lynch não é fácil, mas é isso que Molero nos propõe do primeiro para o segundo álbum. Um que é todo ele um ritual, que tanto nos encanta como nos parece enfiar no mais endiabrado dos labirintos. Quando se encontra o caminho, há frescura. Quando cintilamos com a música, somos também luz com ela. Estamos no abstracto, no lugar onde tudo é muito possível. "Destellos Del Éxtasis" é a verdadeira ficção dos trópicos.