There´s no knowing
Joana Gama & Luís Fernandes
LISTEN:
There’s no knowing . 1
Parece natural voltar à origem. Desde o início que a música de Joana Gama e Luís Fernandes vive de um diálogo em aberto. Foi assim que a relação começou em “Quest” (Shhpuma, 2014) e depois se abriu para diferentes colaborações, com Ricardo Jacinto, a Orquestra de Guimarães ou com os Drumming GP. “There’s no knowing” tem só os dois. Voltar à base, numa peça de cinquenta minutos, em permanente tensão com o vazio e silêncio. Habitar esses espaços vazios é uma conquista. Após vários meses com esta peça liberta no nosso inconsciente, “There’s no knowing” ouve-se como o melhor álbum, até ao momento, de Joana Gama e Luís Fernandes. O que não é surpresa, a obra do duo vive nessa progressão, não necessariamente de um álbum ser melhor do que o anterior, mas de uma constante vontade de um puxar o outro - e de quem se junte. Uma forma de existir, de beberem a linguagem de ambos, absorvê-la, contrariá-la enquanto se adopta para criar algo de novo. Se em “At The Still Point Of The Turning World” (Room40, 2018) pareciam existir em permanente conflito para fazer a música explodir, em “There’s no knowing” transformam o conflito em convergência para pontos dramáticos, onde a peça joga com concentração, ansiedade e drama. Características que se vão buscar à fonte de “There’s no knowing”: o convite para criarem a banda-sonora para “Cassandra”, série de Nuno M. Cardoso que estreará em breve na RTP. Com base nisso, partiram para um novo álbum, onde trabalham os sentidos e os sentimentos do ouvinte como em nenhum outro momento. As pausas no piano de Joana Gama criam momentos de suspensão temporal enquanto a electrónica de Luís Fernandes parece cobrir os dois com um manto sonoro em pleno crescimento. Sempre em progressão horizontal, nunca com uma ideia de subir e descer. Para não existir uma queda, “There’s no knowing” arrepia e ouve-se como uma experiência total. Prende-nos de imediato e não queremos ser soltos, sair. É importante saber como acaba.