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Roll Over: Adeus Anos 70

José Paulo Ferro

Documenta

Regular price €18,00

Tax included.
soft cover, 106 pp, 24,2 x 17,2 cm.

Neste livro pode espreitar-se o que acontecia em certos locais públicos mas sobretudo em casas privadas no contexto do exercício de liberdade hedonista. Soltas as amarras do Antigo Regime após o 25 de Abril de 1974, sentiu-se em vários quadrantes da sociedade não apenas a possibilidade recém-adquirida, também o desejo, mesmo a necessidade de festejar, usufruir, experimentar em conjunto opções de diversão até então mal vistas e até proibidas. Concertos, festas, performance, tertúlias nos anos pós-PREC imediatamente anteriores à década de 1980, tudo simbolizado num único só desses acontecimentos: a festa "Adeus Anos 70" realizada n'Os Alunos de Apolo em Dezembro de 1979 e à qual este livro pede emprestado o subtítulo. As fotografias assumem a perspectiva participativa de quem de facto viveu os eventos por dentro, como foi o caso de José Paulo Ferro, amigo e conhecido de vários fotografados e então estudante na ESBAL. Reconhecem-se alguns rostos públicos como António Amaral Pais, Miguel Sousa Tavares, Zé Pedro (Xutos), Pedro Ayres Magalhães, Leonaldo de Almeida (Frágil, Lux) e parte do núcleo que mais tarde, de uma ou outra forma, se envolveu no projecto da loja Cliché: João Nogueira, Vera e Bernardo Futscher, Madalena Pinto Leite. As fotos (em preto-e-branco) mostram vida e cultura num período de enormes convulsões políticas e sociais em Portugal. Várias destas casas que albergavam festas pertenciam a boas famílias fugidas para o Brasil e que, perante a ameaça de ocupação sumária, preferiram arrendá-las a grupos de pessoas que, em princípio, alguém da família conhecia. Abertas as portas, muito acontecia que não seria aprovado por mentes conservadoras. Antes do Frágil, Rock House, Rock Rendez Vous, antes de o Bairro Alto existir como local de movida, eram estas movimentações que geravam laços, confiança, proporcionavam experiências e motorizavam ideias.



"Roll Over fica como um retrato de uma época que ainda está (em certa medida estava) por fazer e que sem dúvida gerará outros que o completem; numa época em que a imagem digital faz desaparecer a importância da fotografia e do snapshot pela imensidão de imagens que se podem gerar em cada segundo, este é um arquivo valioso para a memória destes anos e que complementa qualquer história do “rock português”. Mas é-o sobretudo pelo estilo de aproximação, pela forma como sublinha a cena em detrimento do personagem individual que nela se destaca, o acto, em detrimento da pose, a dinâmica literal em detrimento do esteticismo." ([Margarida Medeiros]
"Isto é certamente fotografia tribal. Havia então outras tribos, com outras marcas identitárias. Nós – o José Paulo, eu também – fazíamos parte desta tribo. Mas nunca pensámos na publicação destas fotografias “escondidas” (conhecidas de poucos e quase todas inéditas) para alimentar o mercado da nostalgia e do narcisismo. Por mim, tento vê-las na sua dupla essência: valiosos documentos sociológicos e espécimes da nobre arte da foto-reportagem." [João de Menezes-Ferreira]