OOOO
Jibóia
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Quando Óscar Silva apresentou Jibóia no início desta década tornou bem claro que a sua música iria beber a diferentes trópicos deste mundo, procurando uma conexão entre climas e ritmos que não obedeceriam estritamente a regras de tempo e espaço. Procurar influências na sua música é um exercício imperfeito, porque ela se abre de forma cósmica, sem barreiras, à procura de novos sons ao invés de reflectir sons que se têm presentes. A partilha é um elemento crucial na criação da música de Jibóia. Nos seus três lançamento anteriores procurou colaboradores que ajudassem a criar a dinâmica que queria no seu som. No passado trabalhou com Makoto Yagyu (If Lucy Fell, Riding Pânico e Paus), Sequin, Xinobi, Jonathan Saldanha e Ricardo Martins. Para OOOO contou novamente com Ricardo Martins (Lobster, Pop Dell’Arte, BRUXAS/COBRAS, entre outros) e do seu habitual colaborador André Pinto (aka Mestre André, Notwan e O Morto). A viagem de OOOO é mais partilhada do que nas anteriores. Os três músicos partiram à experiência para criar música através de um conceito, pegando em Musica Universalis, de Pythagoras, que relaciona o movimento dos planetas e a frequência (onda) que eles produzem, com uma harmonia interespacial que essas frequências somadas produzem. Como os músicos descrevem, “é uma relação matemática, algo religiosa até, já que essa musica é inaudível. Uma espécie de conceito poético que designa, ao fim e ao cabo, o som do universo em movimento.” Bem redondinho, é música de cosmos, e não é exagero pensar em Sun Ra como inspiração, dado o diálogo rico, fluente e aberto que acontece entre os músicos ao longo dos quatro temas de OOOO. Os primeiros três temas são referências às 3 principais relações entre as frequências propostas no conceito de Musica Universalis e em cada um deles há um ênfase nos instrumentos de cada um dos músicos: nos de Óscar Silva em Diapason, nos de Ricardo Martins em Diapente e nos de André Pinto em Diatesseron. Esta forma de criar revela uma expansão sonora no som de Jibóia. A sua música flui de um modo livre, mas rigoroso, e circular, trabalhando em constância uma ideia de movimento. É inevitável associar o movimento a viagem, uma que tanto se estende ao cosmos como reforça as convicções de Jibóia/Óscar Silva em trabalhar nas não-convenções do rock e do jazz. O último tema, Topos, reserva para si uma espécie de resultado desta experiência entre os três músicos. Mais do que uma conclusão, Topos é aquilo que existe para lá da partida: uma viagem sem ponto de chegada em percurso elíptico. Não poderia ser de outra forma, música tão aberta, clara e livre é impossível de encaixar na lógica de uma narrativa normal. No fim abre-se um novo início, um ciclo fresco que começa com a certeza de que o caminho será sempre gratificante.