Apocalypse, Girl
Jenny Hval
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Às vezes ficamos desanimados quando discos não vingam como desejamos, ou quando há novos músicos que parecem prometer tudo e está toda a gente a ouvir outros discos (muitas vezes, os errados). É o nosso empenho a falar, não nos levem a mal – estamos cá para levar isto tudo a sério. Quando ouvimos “Apocalypse, Girl” voltamos a sentir que o que vamos sentindo desde “Viscera”: estamos a ouvir uma das mais importantes autoras dos últimos anos. O problema está localizado, e o que afasta o grande público dela é exactamente aquilo que atrai muitos de nós: canções cortantes e desafiadoras, escritas para incomodar, embrulhadas numa pop experimental que nos tira o chão. “Innocence Is Kinky”, de há dois anos, já era isto tudo, mas esta sua estreia na Sacred Bones parece prometer um outro grau de atenção que, esperamos, não falhará. Feito em jeito de sussurro confessional, apimentado por gritos existenciais, “Apocalypse, Girl” é um testemunho exposto das suas vulnerabilidades que se vão transformando em forças à medida em que entramos no seu mundo. Entre contradições e regras normativas, o lado musical acompanha as mudanças de humor de Jenny Hval, ziguezagueando entre arranjos pop cristalinos, farrapos acústicos neo-clássicos, electrónica e ruído de Lasse Marhaug ou ambientalismo sufocante, deixando claro como a música é a matéria prima para a construção das canções. Se o brilhante “Meshes Of Voices”, com Susanna, parecia indicar um novo rumo apaziguado para Jenny Hval, “Apocalypse, Girl” traz de volta as questões certas – “what’s wrong with me?”, diz – que a ajudam a criar discos assim. Ainda não é para todos, mas temos de ser muitos a gostar disto. Fabuloso.