Vol. 1 & Vol. 2
HR Giger Studiolo
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Durante grande parte do início do século, Spencer Clark e James Ferraro editaram em formatos menores uma série de álbuns. Por formato menores, entenda-se CDRs ou cassetes, muito ligados ao destinatário desta música: quem ia aos concertos, ou era fã devoto - pré-Bandcamp - e, com alguma sorte, alguns exemplares chegariam à Volcanic Tongue. Há imensa música inacreditável nesses lançamentos, a maior parte precisa de ser depurada para os ouvidos de 2024 e para existir para lá da criação do momento. Algum desse material tem vindo a ser reeditado, outro precisa de algo - tempo, trabalho - para justificar que exista. É aqui que entra este duplo LP de H.R. Giger’s Studiolo, versão editada de uma dupla cassete que saiu em 2014, do tempo em que Spencer Clark imaginava com visitas de extraterrestres e estava a começar a pensar na criação de outros mundos da sua música (os “Avatar Blue”). Este 2LP parece um disco perdido no meio dessas ideias, sem elo, desfasado de qualquer doutrina editorial. Um ovni dentro de um ovni, de peças que não ligam, que não fazem qualquer sentido lógico - ou de temporalidade - mas que por estarem no mesmo espaço - agrupadas - nos fazem sentir algo, abstrair. São peças de sons dispersos que criam harmonias, tal como “Far Side Virtual” de James Ferraro era (lembram-se dessa obra-prima?). Só que ao contrário de Ferraro, Clark não tem défice de atenção e gosta de nos segurar em mundos, sejam eles materiais ou imateriais. E é disso que existe neste moniker, ao invés de nos seduzir pela narrativa, neste disco aprisiona-nos num wormhole do qual só saímos quando a música acaba. A recompensa é contínua, num fervilhar de ideias constantes a acontecer em simultâneo e em sucessão. Tudo isto é natural e exigente, provando o músico visionário que Spencer Clark é para lá da superfície (entenda-se: as edições constantes, a necessidade de se fazer um filtro). Se há disco que deve passar pelo filtro, é este. Viagem à volta de um mundo qualquer. Magnífico.