Currents & Riptides
André Gonçalves
De acordo com os registos, "Currents & Riptides" é o primeiro álbum em nome próprio de André Gonçalves em 10 anos. É, portanto, um acontecimento que se deve saudar, mas também é uma meia-verdade. Este álbum, agora editado na Shhpuma, oculta o seu verdadeiro regresso a solo que aconteceu no ano passado, não em disco mas numa aplicação exclusiva para os formatos móveis da Apple - procurem-na na AppStore. É dentro de um iPhone ou iPad ou iPod que podemos ouvir "Música Eterna", uma maratona quase-infinita de blocos sonoros que se vão encaixando numa partitura-puzzle que nos deixa em estado de contemplação permanente. Embora "Currents & Riptides" procure outras composições, André Gonçalves continua aqui a propor soluções ambientais para os seus sintetizadores modulares, como se tivessem uma vida orgânica, autosustentável, dentro deles, como se aquelas máquinas tivessem pequenos corações que nunca param de bater, criando música com as suas arritmias. Há algo de profundamente poético em ouvirmos todas estas partículas electrónicas - muitas delas erráticas e acidentais - a arrumarem-se numa maravilhosa grelha sonora, que tanto parece inderrubável como algo incrivelmente frágil, lembrando certas reverberações de Nobuzaku Takemura ou Markus Popp. A diferença - e talvez por isso sintamos este tremendo conforto que nos custa largar - é percepcionarmos ali o nosso mundo, real e palpável, no meio destas correntes que nos arrastam para zonas sem pé. Por isso, só um conselho: deixem-se ir.