Palácio
Filho Da Mãe
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A guitarra – seja a portuguesa ou a clássica – tocada deste modo, parece ecoar inapelavelmente um espírito lusitano que mais nenhum instrumento parece ter o dom de conseguir. Esta tradução espontânea virá do fado, claro, mesmo que o género se auto-limite perpetuamente, mas entre o fado e a tradição andaluz, o grito ibérico anda mesmo com uma guitarra às costas. Talvez sem querer, é exactamente esse o mundo de Rui Carvalho, guitar hero dos If Lucy Fell, o Filho Da Mãe que largou o rock e as explosões eléctricas por um instante para ser desafiado a editar as suas coisas a solo. “Palácio” é um florescente álbum de canções instrumentais, repentinas e violentas, sinuosas e frenéticas, como se fossem gritos doces de emancipação. Há um mundo do rock lá dentro, em ebulição, que vai saindo como raios de super-poderes pelos ágeis dedos do Rui e pelas cordas da sua polifónica guitarra de um modo domado e inspirado. Quando “Palácio” começa a chegar ao fim, nos dois últimos temas, a câmara vai abrindo magesticamente o plano, deixando perceber todo o espaço à volta, como se abrisse uma janela mini-épica para paisagens abstractas. Gravado em casa, com intromissão benigna de amigos e colaboradores, “Palácio” mostra um autor luminoso com mundo próprio e uma promessa sólida de música imponente. Grande disco.
