Sun Oddly Quiet
João Pais Filipe
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Ao longo das quatro composições de “Sun Oddly Quiet”, João Pais Filipe abre um diálogo com o ouvinte. Seja ele um regressado do álbum homónimo (Lovers & Lollypops, 2018), um conhecedor do envolvimento com os HHY & The Macumbas, CZN ou das colaborações com Evan Parker, Rafael Toral, Black Bombaim e Burnt Friedman. Ou mesmo alguém que se cruze pela primeira vez com os ritmos do músico nascido no Porto em 1980. A conversa entre o músico e o outro lado existe para o baterista abrir o portal do seu domínio e desafiar quem entrar a entender a singularidade dos intrincados ritmos que dão vida a “XV”, “XIII”, “XI” e “V”. No primeiro álbum inspirou-se na electrónica/dança/techno que evoluiu da percussão do krautrock para espernear à vontade o talento. Em “Sun Oddly Quiet”, logo em “XV”, abandona, com todo o voluntarismo, as preconcepções que existem e aventura-se por uma estrada sem qualquer mapa. Está a tactear terreno virgem na carreira a solo, evidenciando que não quer uma única associação ao seu trabalho, e que o ouvinte o perceba como um compositor/percussionista e não apenas como uma só dessas partes. Só que João Pais Filipe sabe para onde vai esse novo e desconhecido, porque já fez esse caminho vezes e vezes sem conta. É um músico sem medo do que está além. Essa expansão criativa – e também motivacional – é empurrada por outra relação que tem com os seus instrumentos, enquanto construtor de gongos e pratos. Um conhecedor da sua matéria-prima que ousa que o instrumento soe mais do que o seu propósito e que possa cantar mantras através de ritmos. Maturado pelas diferentes experiências que viveu ao longo dos últimos três anos, as colaborações que desenvolveu com outros músicos, a coragem suplementar de enfrentar um público num palco a solo, viagens a África, Ásia e América Latina que permitiram os seus músculos colaborarem com outras linguagens percussivas, “Sun Oddly Quiet” revela-se num álbum desenhado por quem tem a certeza do hoje e do amanhã. Para o ouvinte é um mapa de um lugar incerto; um, dois, três ou quatro mantras com coordenadas exactas sobre como fazer música percussiva em 2020.