Voices of Haiti
Maya Deren
Correr pelo risco. A carreira de Maya Deren foi pontuada pelo risco. Um risco que não o risco que hoje se assume, antes aquele de ir contra o sistema. E o sistema também poderia “um” sistema e podia ser o sistema que ela própria criou. Fez cinema experimental quando pouco se fazia cinema experimental, nas décadas de 1940 e 1950. Influenciou muitos cineastas experimentais que se seguiram nas décadas seguintes, como Brakhage ou Kenneth Anger mas, sobretudo, foi uma voz contra o sistema instaurado: o de Hollywood, o das grandes produções. Os seus filmes são obras delicadas, um bailado de imagens que criaram bases para visões do cinema experimental e não só. Deren poderia ter ficado confortável aí. Mas não. A certa altura da sua vida decidiu fazer um filme etnográfico no Haiti indo contra o seu próprio sistema: o avant-garde. Foi criticada. Mas fê-lo. Daí nasceu o belíssimo “Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti” (1954), obra maravilhosa e poderosa, pouco invasora, que se fascina com os rituais de vudu e os seus movimentos. Um bailado, uma dança, a beleza do corpo e do seu movimento, como nos anteriores filmes de Maya Deren. Nessas viagens ao Haiti pensou neste “Voices Of Haiti”, com gravações que fez no local. Foi um dos primeiros álbuns editados na Elektra Records. É verdade, outros tempos. E quase setenta anos depois continua a ser um conjunto de gravações cru, mágico, arrepiante e simboliza uma das raízes do trabalho e edição deste tipo de gravações. Monumental. Para ouvir bem alto e com pele de galinha.