Ao longo do mês de Dezembro destacamos um disco por dia. Novidades 2020, reedições ou, até, edições de anos anteriores. A essência é que seja um disco com significado para nós ao longo dos últimos meses. Num ano atípico para todos, mas também num período de grande mudança para a Flur.
Desde o início da pandemia que se têm promovido diversas formas do universo musical subsistir nas suas mais diversas formas, para todas as pessoas envolvidas. O ano tem sido feito de tentativas. O stream tem sido uma delas. É uma possibilidade.
O tempo o dirá, mas forçados a escolher um momento representativo desse gesto de sobrevivência da música – que vai além do monetário – poucos terão tido tanto impacto como Nick Cave no Alexandra Palace, em Londres, a 23 de Julho.
O concerto, intitulado “Idiot Prayer: Nick Cave Alone At Alexandra Palace” surge agora em álbum, em vinil e CD, como uma forma de marcar o ano. Nick Cave viu a sua digressão de “Ghosteen” cancelada; deixar-se sozinho, ao piano, numa sala vazia, foi um gesto para marcar um momento que, por muitas coisas boas que tenha trazido, não deixará de ser um ano de solidão.
A solidão em palco foi a forma de trazer o seu repertório para uma hora e meia de absoluto transtorno. A solidão é também ela um gesto para quem está sozinho em casa a ver um concerto. A solidão é um peso para o futuro.
Ouvido agora, à distância, fora das imagens, só o piano e Nick Cave, “Idiot Prayer” não é um concerto, mas um álbum. Como se o ouvíssemos, as ouvíssemos, as canções, pela primeira vez. É uma mentira que diremos a nós mesmos daqui a uns anos, para não pensar em 2020 quando ouvirmos esta beleza impossível.