Soliloquy For Lilith
Nurse With Wound
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Soliloquy for Lilith, de 1998, revelou-se até hoje um caso de estudo espectral: sabe-se que a música aqui ergue-se somente a partir de pedais de guitarra, numa altura em que Steven Stapleton alegadamente lutava contra problemas financeiros depois de ter desistido da sua fonte de rendimento primária. Dessa insistência no seu trabalho musical surgiram os tais espectros sónicos, os feedbacks gerados automaticamente da rede de efeitos de Stapleton e que respondiam - quase miraculosamente - ao movimento dos corpos do músico e da sua parceira, Diana Rogerson, pelo estúdio. Esta descoberta resulta nesses diáfanos fios de fumo que se prolongam semi-eternamente, suspensos aquando da escuta do disco e de forma imediata na nossa consciência - hipnóticos, embalam-nos de forma narcótica. A aparente miragem de que os tons se mantêm iguais é facilmente quebrada com alguma concentração: num exercício mental, de relaxamento, a nossa psique encontra nestes tons capacidades revelatórias, metafísicas, dobrando o tempo de forma semelhante à de "Time Machines" de Coil, que anos mais tarde respondia ao exercício de Steven Stapleton. Um marco também para a música minimalista, crente no poder das pequenas oscilações cuidadas, lentas e definitivas, bem como nas capacidades hipnóticas das mesmas. Um portal para uma outra dimensão, uma resposta quase directa às experimentações sónicas principiadas por Eliane Radigue e que mudaram definitivamente a maneira como se faz e pensa música electrónica - transcendente, em busca de alicerces espirituais para escapar à decadência dos nossos tempos.