Canto Ecuménico
Filipe Pires
Três obras compostas entre 1972 e 1979, reunidas originalmente num LP com o mesmo alinhamento deste, em 1980. "Homo Sapiens" simboliza a terra e a criação através da manipulação da voz humana. Sequências quebradas, momentos guturais, frases sem língua-mãe definida, ecos e cascatas de som, num trabalho que Filipe Pires completou enquanto estudante nos estúdios GRM; "Canto Ecuménico", a peça mais longa (ultrapassa os 20 minutos) expressa claramente a intenção de agregar a humanidade sob uma bandeira comum, fazendo conviver o som de tradições religiosas de diversas partes do globo numa longa sequência de colagem que desafia o ouvido mas talvez, também, as ideias feitas de alguns de nós. Pires foi, aliás, de acordo com João Almeida, no site da RTP, "Especialista de Música no Secretariado Internacional da UNESCO, em Paris, participando em missões oficiais a vários países da Europa de Leste, África e América Latina.", ainda na década de 70. A sua formação mais clássica nunca foi barreira para a vontade de exercer liberdade criativa e, quando chamado a dirigir o Conservatório Nacional, em Lisboa, "introduziu a disciplina de Música Eletroacústica e retomou a disciplina de Análise." Por último, "Litania" segue uma corrente de fascínio, na música concreta e electro-acústica, pelo som do metal, mais puro e/ou em bruto ou mais trabalhado através de meios electrónicos. A peça funciona, no contexto português, como uma espécie de abordagem ao que, na música popular, já se poderia chamar de industrial. Importante.