
Grey Interiors
Actress
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CLIP1
Com vários discos ao longo do mesmo ano, Actress, desde o pós-pandemia, tem surpreendido em quantidade e qualidade. A Berliner Festpiel não foi indiferente e este "Grey Interiors" foi pedido à comissão para uma instalação do festival em 2021. Olhando para trás, estamos sempre a insistir na ideia de um Actress que se reinventa a cada disco que passa, raramente repetindo ideias e apontando sempre a novas direcções. "Grey Interiors" começa sem batidas e com uma introdução cinemática não muito diferente de um videojogo ou de um filme de ficção científica - o drone cibernético dá lugar aos habituais pontilhismos impressionistas do produtor, qual bonança depois da tempestade, com direito a uma voz "timestretched" que nos coloca em solo eminentemente inglês. Com sentido de direcção e progressão apurados, Actress leva-nos por entre os remotos túneis de uma estação espacial onde podemos ouvir a respiração das máquinas e os burburinhos dos computadores, localizando-nos num sítio onde todas estas abstracções sónicas ganham sentido - a narrativa do disco faz com que todos estes elementos entrem num caos controlado, algo que rapidamente se dissipa e nos faz entrar em zona rítmica, com uma batida quebrada que sustenta os sons de piano, agora ordenados, que ouvíamos ao início, até dar lugar a ruído cósmico, atonal e com uma suspensão forte sugerida por um drone mais agudo, qual abstracção pura da narrativa até aqui. Inspirado pela Acting Press? Não conseguimos dissociar os dois. Música espacial, sideral, para todos nós que nunca conseguirão meter os pés no espaço. Actress, até em música para galeria, é sempre reconhecível, com assinatura sónica própria. É sempre uma mais-valia.