Telematic Insects
Archimuzik
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Paulo Miguel Melo tem formação e prática em arquitectura. Um meio, uma expressão, uma concretização frequentemente relacionada com música. Segundo o autor, em "Telematic Insects" «uma imagem esteve sempre presente - a de um edifício que irrompe como uma flor gigante no meio de uma floresta: bichos, vegetação e humanos, em coabitação.» O resultado que escutamos não é de todo ilustrativo, é uma espécie de trituração do conceito em partes que se reúnem em novo todo. Esteticamente poderemos pensar em música auto-generativa, glitch de transição do milénio, a austeridade de Alva Noto e a - digamos - liquidez permeável de Jan Jelinek. Ouve-se um bravo desbravar de terreno, talvez não para construir algo que possa ter um nome. De novo, o autor elucida: «Anti-objecto. Desobjectificação. Fusão da música com camadas ecológicas. Desapego. Caricaturização do Jazz e da técnica. Desapego pelos instrumentos. Após a gravação dos takes (tocados à primeira) quase todas as máquinas foram devolvidas e vendidas. Ficou o Nord micro modular e a guitarra. Também no desenvolvimento das composições, foi muito mais o que se retirou do que o que se adicionou. Se o processo de subtracção tivesse continuado estes temas acabariam por desaparecer, tal como os instrumentos que os geraram.» Estas palavras acrescentam algum poder à experiência de escuta, enquanto navegamos no abstracto, entregues à pura fruição do som. Não se pretende alienante (e não o é). Os sons têm carácter, não coexistem como mera amálgama. Beleza inusitada, recordação ténue, esporádica, dessa obra-prima do Fora português que é "Plux Quba" de Nuno Canavarro. Falando de novo em beleza, e como forma de recapitulação, em "Telematic Insects" ela reside muito no facto de Archimuzik não pretender chegar a lado algum, muito menos ilustrar algo de concreto. Perde-se, no melhor sentido. E perdemo-nos, embalados com estranheza mas segurança, nestes 34 minutos de comunicações concisas, sem excessos.