Exit Simulation
Niecy Blues
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Quando falamos de que tudo já foi feito, deveríamos parar para pensar. Bom, e ouvir um álbum como "Exit Simulation". Heather Sinclair, o ID por detrás de Niecy Blues, passou algum tempo na infância em igrejas no Oklahoma, banhando-se no gospel e na música soul que vai de Aretha Franklin a Erykah Badu. Gospel não é a primeira dimensão que surge quando se ouve "Exit Simulation", mas à medida que somos encorajados a seguir caminho e ir para lá das atmosferas que se transformam em blues, soul, R&B, trip hop e até dream pop, somos brindados, entre nevoeiro, ruído, estranheza, com a elevação do gospel. "Exit Simulation" é feito de música celestial e sensual, mistura ideias de hypnagogic pop com os arrumos que alguns novos músicos de electrónica - sobretudo britânicos - deram ao jazz. Só que Niecy Blues faz isto tudo de forma arrumada, limpa, sem a prepotência ou arrogância de quem quer só ter atitude. Longe disso, isto é música encorajada para ser ouvida sem estranheza, aceitando a beleza daquilo que vai dando: sem exageros, é como ouvir "Blue Lines" pela primeira vez. Há aquele punch de novo misturado com estranho e com a certeza de que há aqui qualquer coisa de genuíno que faz tudo levitar. Não tem o poder revolucionário de "Blue Lines" e nem precisa. É outra coisa, é soul arquitetada com outro material, ambient hauntológico que ignora as manias passivas do género e que confirma que Eno, Badu e Grouper poderiam coexistir numa espécie de supergrupo mental. O exercício pode ser feito, mas a música pode - não, deve, caramba! - ser ouvida num dos mais brilhantes e completos álbuns de estreia dos últimos anos. Maravilha, Niecy Blues, "Exit Simulation" é novo sem desgastar a palavra novo. Isto é o céu na terra, com tudo resolvido, e em permanente levitação. Lindo.