1807
Niagara
OUVIR / LISTEN:
CLIP1 - CLIP2 - CLIP3 - CLIP4 - CLIP5
Não será caso inédito, mas é um acontecimento tão raro, que o gesto, por si só, é de saudar. O objecto fala por si e comunica algum do trabalho invisível que existe para chegar à discografia mais normalizada dos Niagara. Eis o acontecimento: uma editora com raízes em Portugal decide explorar o catálogo da música gravada em CDR pelos Niagara, entre 2014 e 2018. É uma prática que o trio de Loures ainda continua e, para quem está a lés disto, são edições muito limitadas (cuja maior parte foi vendida exclusivamente na Flur), cada álbum é uma espécie de prateleira de testes dos Niagara, Não são trabalhos inacabados ou explorações sem direcção, mas composições com princípio, meio e fim que decidiram começar e acabar de forma rápida: daí a opção pelo formato CDR; daí o carácter limitado, para ajudar a encerrar o assunto. “1807 (Músicas Retiradas dos CDRs)” é uma antologia organizada por Gonçalo Cardoso (Sr. Discrepant) e os Niagara, com dezassete temas escolhidos entre quase duas centenas existentes nos CDRs. O que se encontra aqui não são os Niagara da Ascender ou da Príncipe (embora quem adore “Apologia” irá encontrar aqui um bom porto), mas uns que perseguem a exploração sem fim à vista. Se nos seus lançamentos “mais oficiais” existe sempre uma narrativa, nos CDRs foram sempre mais abertos e isso sente-se nesta selecção. Entre o ambiente, a electrónica, synths espectrais e uma proto-qualquer coisa, “1807” é uma antologia que convida a olhar para os Niagara de uma forma totalmente nova. Não se exige ao público que acompanhe tudo e mais alguma coisa – sobrecarregamento de informação, etc. -, por isso, edições como esta são sagradas no panorama da música portuguesa. Uma viagem de sonho.