MM...Food
MF Doom
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Se havia dúvidas da omnipotência de MF DOOM, desde a coerência do seu trabalho até à sua morte, passando pela maneira como a sua música foi descoberta por toda uma nova geração consumista de redes sociais, então o quadragésimo aniversário de “MM..FOOD” esbaterá as dúvidas de qualquer céptico. O rapper mais original de sempre? Provável, já que não houve nenhum outro a lançar um disco conceptual sobre comida, isto em 2004, com um disco-bónus que o acompanhava sob o título “MM…Leftovers”. Por aqui dá para perceber a importância que o humor tinha no trabalho de Daniel Dumile. Proeza técnica na produção, DOOM é desta vez o autor da maior parte dos instrumentais, revelando-o como prodígio em sampling e beatmaking, com recolhas que vão desde Yellowman a LL Cool J, Sade e Frank Zappa, com as habituais intros, outros e interlúdios recolhidos de bandas-sonoras de filmes ou excertos de adaptações de banda desenhada (“Hoe Cakes” tem dos instrumentais mais lunáticos, no melhor sentido possível, que já tivemos a oportunidade de ouvir). A sua persona é também inspirada pelo universo de super-heróis, já que Dr. Doom, do Quarteto Fantástico, é o antagonista cujo nome se assemelha muito ao do rapper (Daniel Dumile). O ponto-de-vista é, então, o do vilão que, aquando do rap, rapidamente passa de um flow relaxado e seguro (“Vomitspit”) para uma entrega energética e avassaladora (“Deep Friend Frenz”), evidenciando a polivalência técnica, mestria poética e comédica em iguais partes (“I get no kick from champagne…”). O tema central do disco é comida, se isso não fosse já óbvio, com os três capítulos do disco sob os títulos Appetizers, Special Recipes, Entrees. Camadas sobre camadas sobre camadas, tanto nas letras como nos beats. Palavras faltam-nos para explicar a mestria de DOOM. É algo que deve ser ouvido e experienciado na primeira pessoa. São os 20 anos de um dos discos mais importantes na história do rap, com direito a nova capa ilustrada. Convencidos? Acabámos agora de ouvir o disco e estamos cheios de fome.