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Hearing Smoke

Polido

Holuzam

Preço normal €22,00

Taxas incluídas.

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Ao quarto tema, “Entre Ouvir E Mentir”, ainda nem se está em dez minutos de “Hearing Smoke”, dos cerca de quarenta, e fica perceptível de que Polido já foi a muitos sítios, tocou em muitas ideias, planeou diferentes coisas sem deixar qualquer ponta solta. Polido é um dos mais dotados artesãos do som da actualidade. Dom, treino, extrema sensibilidade ou qualidade de percepção? Não se sabe, mas que existe, existe. Deste lado, sente-se há algum tempo, talvez desde “Time Is When” (2017), certamente com “Sabor A Terra” (2020), banda-sonora para o filme de Madalena Fragoso e Margarida Meneses, onde tanto se junta e acontece, sem misturar, numa fluência cognitiva, imperceptível, em que experiência sonora se mistura com sensações, felicidade, conhecimento. “Hearing Smoke” é um projecto de alguns anos, de certa forma, o fechar de um capítulo em que o artista arruma ideias que trabalhou e pensou durante anos. É um álbum filho de uma tese de mestrado e, também, um olhar sobre a música contemporânea portuguesa da segunda metade do século XX, pré e pós-revolução. E é também o álbum, a música, de um país que está a ser culturalmente colonizado, seja pelo turismo ou pela ausência de ideias. O movimento para a frente de “Hearing Smoke” é um acto de resistência a este presente, à ideia constante de que a cultura portuguesa tem de seguir o passo, mesmo que atrasado, dos outros. Por exemplo, a forma de pensar sobre a música contemporânea portuguesa: a ideia nunca será reconhecer os samples, associar os pontos, trabalhar as associações, mas sentir como ela encaixa neste presente de ideias e joga em contínuo com a música de sensações de Polido, que ele chama, e bem, música livre. Eis música livre e todos os significados que isso acarreta, seja pelo fumo de “Searching For/O Início”, as pilhas de jazz de “Saque” ou o cenário trap-lynchesco de “The More I Think, The Less I Speak”. Tudo é pensado - óbvio - mas tudo lhe sai, no final, leve, a transbordar de ideias, sons, sem o ouvinte algum momento se sentir assoberbado por elas, pelo contrário, aceite, incluso. Tem o fogo de um criador de beats de samples não estacionário (e, permitam dar este salto: que nunca existiu no meio português), a percepção única de como a música pode ser um ponto de inclusão e de escape - sim, em simultâneo - e de como o veludo pode ser áspero. Faz acontecer, transforma a nossa percepção de música ambiente, porque ela não precisa de ser um lugar estacionário, afinal, tudo muda, tudo evolui, tudo se adapta: numa época de excesso de informação, de progressivo ruído, a música ambiente não pode estar para sempre no lugar de Eno. Como já se disse, “Hearing Smoke” condensa uma ideia de fim para chegar até ao ouvinte como um produto final. Para a frente, Polido partirá disto e continuará com a sua música livre. Nós ouvi-la-emos, certos de que ele está na linha da frente, numa combinação incomum entre sensibilidade, forma, conhecimento, arrojo, visão e manuseamento. Para já, há isto, “Hearing Smoke”, uma onda de vários sons que nos toma por arrasto, uma experiência sonora que nos deixa feliz e que, por quarenta minutos, assegura aquele raro estado de se estar noutro mundo, seja este, alienados de tudo, ou num outro-mundo. Permitam a arrogância, insensatez, porque é um álbum cá da casa, mas “Hearing Smoke” é da música mais importante do presente. “Custa A Crer”, não é? Como nos diz a canção final, um lamento de minutos que, quando se julga que vai abrir e terminar em luminosidade, fecha-se de repente e tudo se transforma em ruído, fumo. Voltamos ao início. Novamente, à procura, livres nesta música livre.

“Hearing Smoke esta “transformação” produz resultados excitantes. Mais do que cortar e colar samples, em vários momentos, Polido recorre à tecnologia MIDI para criar novos sons a partir de amostras de música antiga. (…) Os sons e os seus ecos, as coisas e os seus significados, o passado em permanente transformação: eis o fascinante universo de Polido.” 4/5 in PÚBLICO/ÍPSILON