Everything Was Beautiful™
Spiritualized
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Há lugares que parecem impossíveis voltar. Mais de duas décadas depois, Jason Pierce assim o fez. Toda a carreira dos Spiritualized após “Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space” parecia uma valente negação de que aquele disco tinha acontecido. Por inúmeras razões, Pierce atingiu ali um pico criativo. Era um álbum que reconhecia o passado enquanto cortava com ele e lançaria as bases para o que a música dos Spiritualized se tornaria nas décadas seguintes. Contudo, essas bases foram sempre mais pacificadoras do que reconhecedoras de um artista em luta pelo limite. Este “Everything Was Beautiful”, um inesperado sucessor de “Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space”, que age como se o tempo não tivesse passado e regista uma espécie de via alternativa para a história do passado. Não é Jason Pierce a reconciliar-se com a história – ou a reescrevê-la – mas a recuperar uma ponta solta que ficou no caminho entre o álbum de 1997 e o seu sucessor, “Let It Come Down”, em 2001. A capa recupera o imaginário de “Ladies”, a música afasta-se do épico sonoro mas está cheia de registos sonoros que recuperam imagens na altura. As canções são sobre um quotidiano que estava há demasiado tempo ausente da escrita de Jason Pierce. É preciso irmos atrás para sermos felizes? Reconhecer que no passado está algo irrecuperável, neste caso, “bonito”. Talvez. Mas o que fica de “Everything Was Beautiful” é o delicioso inconformismo de um génio. Uma via paralela, sem saudosismo, reconciliação ou desapego com a via que foi eventualmente escolhida. “Everything Was Beautiful” é o álbum que adoraríamos ter ouvido em 1998. E que ainda é excelso em 2022. Que maravilha.