Electrically Possessed [Switched On Vol. 4]
Stereolab
Duophonic Ultra High Frequency Disks
Nunca é demais termos novos discos de Stereolab por descobrir. De um arquivo discográfico imenso, e à boa moda da série "Switched On", o quarto volume traz-nos temas de lados B, 7" obscuros e outras faixas mais ou menos inauditas que poderão ter passado ao lado dos fãs mais atentos. Compêndio certeiro, evidenciando as variadas qualidades da banda londrina: batidas motorik na bateria, que piscam constantemente - qual flirt desavergonhado - os olhos aos experimentalistas rock alemães, breakbeats, guitarras que carregam as músicas de funk, potenciados pelo wah wah e outros efeitos, linhas de baixo que sobrecarregam o groove e uma miríade de outros instrumentos - principalmente sintetizadores com sons cósmicos, espaciais, que nunca cessam de preencher a tela musical com cores e animações fluídas. Muitos dos temas contam com a produção de John McEntire, baterista dos Tortoise e engenheiro de som que sempre se esquivou ao estilo do rock - agora tradicional - dos anos 90, sobejamente dependente de guitarra. A música de Stereolab encontra-se carregada de vivacidade, de movimento constante, honesta no propósito de manter a boa disposição. Temas longos, exploratórios, para que os leads percorram as linhas ideológicas definidas pela secção rítmica e as desenvolvam, conversando e trocando impressões e disposições. Sempre moody sem serem enfadonhos ou aborrecidos, aqui não há más vibes, apenas curiosidade sónica, jocosidade e atrevimento sem medo de arriscar ou de falhar. Mesmo nos temas mais introvertidos (como "Nomus et Phusis"), onde até a secção rítmica é mais textural, é difícil não nos encantarmos com a paisagem sonora desenhada pelos instrumentos - e mesmo neste tema, pelo meio, dá-se uma volta de 180°, porque das camas texturais electrónicas, sintetizadas irrompe um kraut-funk-pop cheio de pica. Muitos dos temas são também acompanhado pela doce voz de Laetitia Sadier que, mais do que assumidamente, reverencia as formalidades das chansons françaises. Há poucas bandas assim, com influências, signos e referências tão vastas mas que conseguem manter uma coesão sonora tão certeira. Se ainda não os conhecem, "Switched On Vol. 4" é uma boa oportunidade para entrarem no mundo de Stereolab: uma promessa de desenjoo do rock dos anos 90, sempre carregado de distorção e riffage, onde os papéis se vêem invertidos com um twist ao funcionalismo do género. Não é música que promete headbanging, mas fica a garantia que os Stereolab são mesmo uma banda de ouvir e chorar por mais.