Odyshape
Raincoats, The
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Ana Da Silva foi estudar artes para Londres em 1974. Da mesma movida que gerou a Rough Trade nascem as Raincoats. Gina Birch foi a sua parceira inicial, e pelo resto da formação foram gravitando outros ilustres de então – Palmolive, das Slits, tocou bateria no primeiro álbum, homónimo. Vicky Aspinall, violinista e mais tarde também baixista, completou o núcleo. “Odyshape” é o segundo álbum, mais longe ainda do punk, mais perto de outras combinações rítmicas e melódicas, com uso até de outros instrumentos, e é inevitável sentir a contribuição de Charles Hayward na bateria. Canções angulares, cheias de espaços e zonas livres, sons fora de sítio, Robert Wyatt, malhas hipnóticas, jogo incrível entre electricidade e o acústico. Ricardo Camacho dizia ao jornal Expresso, em 1994: "É interessantíssimo porque isto é completamente caótico. Digo caótico no sentido de diversidade, com milhares de coisas que nos apanham na esquina da música. A única coisa que havia de relativamente firme nesta banda era um baterista que tinham na altura. É um edifício que parece que se vai desmoronar a qualquer momento mas nunca cai." O investimento das Raincoats ia no sentido do desvio em relação ao que se poderiam considerar "padrões masculinos" no rock, pegando na tocha já brandida antes pelas Slits. No processo, marcaram profundamente Alison Statton, dos Young Marble Giants. "Odyshape" é a afirmação definitiva de independência criativa, independência em relação a julgamentos sobre a posição das mulheres no rock, e um caminho de possibilidades alargado não só para as próprias mas para muita gente que sentiu (e usou) a influência.