Aaliyah
Aaliyah
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Aaliyah tinha 22 anos quando morreu numa queda de avião trágica - foi no regresso das Bahamas para a Flórida, depois da gravação do teledisco de "Rock the Boat", single incluído neste álbum. Morte precoce de uma lenda precoce. Os três discos na sua discografia são essenciais para compreendermos não só a artista como também o R&B desta altura, que partilhava os topos das vendas com o rock e o hip-hop da transição do século - foram os anos de ouro das cantautoras femininas, com os seus talentos confirmados por produtores como Timbaland ou Rapture. Numa indústria dominada por homens, o R&B incluía três mulheres com visão e audácia para combaterem uma estrutura patriarcal. Aaliyah foi a que mais promessas deixou por cumprir. A versatilidade é invejável: para além de uma voz soprano altamente versátil - vai de sussurros, a exasperações graves, a linhas agudas inalcançáveis - a variedade de sons e de tipos de groove aqui mostrados foi, à altura, exclusiva de Aaliyah, não tendo nenhum outro disco de R&B o alcance que este tem (até o samba é aqui parafraseado). "Loose Rap" une os pontos do R&B ao rap, com uma batida que podia sair de um qualquer outro artista de topo das tabelas, de subgrave afinado e com melodias em piano polidas, causando inveja a qualquer rapper que estivesse com dificuldades em crescer e que precisasse de uma batida de qualidade semelhante para cimentar a sua música. "Rock the Boat" é um marco, com uma batida que une vários pontos do espectro musical que abrange R&B, rap, funk, soul (o beat mostra uma linha sintética que podia ter saído de um disco de Parliament), percussão esparsa de timbalões e congas, síntese filtrada e uma melodia à Compton. Há poucos discos de R&B assim, com uma sonoridade tão fresca, futurista, mas mantendo os cânones de entrega vocal que fazem destes discos irresistíveis ao ouvido, de cadências vagarosas e sexy. O verão chegou, e com ele a reedição essencial deste disco de uma lenda inolvidável e que nos deixou cedo demais. "Never No More" conta com um instrumental à Portishead - onde raio encontramos outro disco assim? Não só nos perguntamos como é que a música dela não encontra ecos nos dias de hoje, tendo em conta a natural resistência ao patriarcado (tão ubíqua na música pop de hoje) aliada à rapidez disseminadora do Tik Tok. Mas mais urgentemente, não conseguimos deixar de interrogar como teria sido a carreira de Aaliyah caso a adversidade não houvesse caído sobre ela. Uma lenda que vive imortalizada numa discografia singular e que encontrou neste disco o pico da sua criatividade. Essencial para qualquer fã de música. Reedição limitada.