Audio Sheep
Dumdum Score
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Álbum completo / Full album
Há uma pressão industrial imediata na faixa de abertura "Slab", em disco que procura conscientemente escapar a uma categorização fácil. «People are talking» é a primeira frase que se escuta. Michael Fielding conta em 2020: «Penso que está nas margens, a aguardar um público num qualquer mundo distante. Fomos em tempos descritos na imprensa musical como 'renegados do rock, vítimas da sociedade', o que era bastante acertado. Do nosso ponto de vista, DDS permanece como um projecto artístico ao qual falta a película comercial para fazer com que a matemática da promoção mainstream valha a pena.»
Sendo assim, remetido à obscuridade e com as potencialidades sempre intactas, "Audio Sheep" foi sendo destinado à descoberta reservada apenas a viajantes e garimpeiros apostados em olhar para cantos menos iluminados da produção musical. O álbum mantém, ainda hoje, a aura de experimentação aberta assente em equipamento electrónico, estruturas que (como em "Going Under Again") prefiguram alguma da IDM que aconteceu 10 anos para a frente, longe do padrão industrial rígido mas em adopção de alguma austeridade associada à cultura, era no fundo um trabalho livre, de ruptura. Na versão em CD lemos sobre um conceito atribuído ao poeta e crítico Stéphane Mallarmé: «nomear um objecto retira-lhe três quartos do poder».
Aqui se escuta uma passagem directa de métodos e sensibilidade revolucionária pós-punk para alguma da electrónica abstracta e consternada dos anos 2000. A manipulação de fitas pré-sampling garante um som vivo, de oficina, de investigação, mesmo enquanto facetas mais ritualistas são praticadas ("Luck Love", "Cento") e uma certa ideia de balada é assumida; "Shore" encontra paralelo possível no primeiro álbum de Cindytalk ("Camouflage Heart"), apesar de menos distorcida e atormentada. Em resposta ao site eccentricsleevenotes.com, sobre se a música de Dumdum Score era elitista, Fielding responde: "Bom, nunca foi descrita como tal, mas consigo imaginar que algumas pessoas assim pensem, ou que é pretensiosa. Mas não é esse o caso com qualquer arte que alguém não entende? Nunca nos propusemos produzir música elitista impenetrável. É simplesmente material que nos interessa e sai como sai. Suponho que tentássemos evocar emoções através da descoberta de novos métodos de trabalho que produziam novas sonosferas musicais e subsequentemente música que nos 'movesse'»
A ideia original para a capa era, no fundo, a inexistência de capa como tal. Aproveitar capas da secção de promoções das lojas de discos e colar por cima um autocolante gigante com o nome da banda e o título. Encontram-se online imagens abortadas e, com esta edição, até uma tira fotocopiada a exemplificar como fazer isso com a capa de "Every Breath You Take" dos Police. Provada complicada, a ideia foi abandonada em prol de capa toda branca MAS duas folhas grandes de autocolantes por usar foram incluídas em cada exemplar para o comprador usar como entender. Essas folhas estão impecáveis e fazem parte dos exemplares em vinil que aqui apresentamos deste álbum ainda único.