Digeridoo (Expanded Edition)
Aphex Twin
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Em retrospectiva, nunca foi fácil apontar a Roland 303 como o agente principal deste disco. Numa altura onde o som dos didgeridoos e samples de tribos indígenas ou aborígenes eram ubíquos no universo do Trance, Richard D. James subverteu essa moda na música rave inglesa, com um twist. Quase de forma irónica, mete um boomerang na capa, dá o título do instrumento ao disco (com um D em falta). Mas didgeridoos reais? Aqui não se encontram. Tudo é efeito da sua 303 e de processamentos de som esculpidos ao pormenor, com um drone psicadélico a permear todas as sequências rítmicas que se ouvem na faixa, conferindo esse efeito de liquefacção à música. Pelo meio, quando a percussão sequenciada em linha recta, principalmente a das palmas, é também processada pelos mesmos canais de efeitos, toda a faixa é transformada numa massa liquefeita lisérgica. Coesão sonora invejável com o ritmo quebrado da bateria a localizar o tema em solo inglês, caso ainda restassem dúvidas sobre estarmos na Europa ou na Oceania. Nas faixas que acompanham o tema-título, há mais foco na 303, com os habituais ritmos das drum machines puxados até ao limite, nomeadamente o kick que soa mais gordo e imponente do que o típico disco de Acid Techno dos 90s. É fórmula habitual de AFX, com noções harmónicas e melódicas mais à esquerda, pads sci-fi, o squelching acídico sempre presente, soturno. Reedição com faixas bónus, nomeadamente demos saídas do Nakamichi de Richard D. James, conferindo a saturação natural destes lendários gravadores de cassetes aos esboços do artista que, na nossa humilde opinião, se encontram anos-luz à frente de 90% das faixas de dança - masterizadas - dos dias de hoje. Se se consideram minimamente interessados pela história da música de dança, este disco não há-de ser novidade para ninguém. Obrigatório, essencial... faltam-nos outras palavras urgentes para ilustrar a importância de "Digeridoo". Ouvir para crer.