New Blue Sun
André 3000
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Este álbum chega-nos precedido da fama, e quem segue o pulsar da música popular decerto já sabe de que se trata. Nada disso anula a surpresa directa quando finalmente se dedica tempo a escutar "New Blue Sun", um ambicioso e épico duplo CD (e triplo vinil, a preço obsceno) que reposiciona André 3000 quase por inteiro em relação ao posto (sólido) que ocupava desde que Outkast começaram a ser considerados bandeira do hip hop sulista. Nos antípodas - pode dizer-se - dessa estética, este disco rola tranquilo, talvez só demasiada ironia nos títulos, distraindo da viagem mais pura que se pode ter apenas escutando a música. Com intervenção da flauta que, em mãos mais psicadélicas (Ka Baird, por exemplo), atingiria um outro grau de intensidade, "New Blue Sun" deixa-se ir um pouco à deriva (no bom sentido, o da abertura e disponibilidade), quase como personagem que se pode imaginar numa animação de ficção científica a sobrevoar terras longínquas e fascinantes. Exotismo falso? Não saberemos. Certo, sim, que se trata de um disco fascinante, com poder de inclusão de quem escuta num universo imersivo de exploração não tanto íntima (não é propriamente um disco de recolhimento), mais de maravilhamento. Talvez, ainda, se possa afirmar que estamos perante reações condicionadas: música bonita = maravilhamento. Dado o contexto de quem produz tal música, parece normal a tendência para sobre-racionalizar o que se escuta, numa certa incredulidade. Desligando os processos, no entanto, esta música orgânica, mesmo que em boa medida produzida sinteticamente e desviada pelos títulos que André 3000 escolheu, funde-se com a nossa mecânica interna, humana. Faz sentido?