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Cartas Na Manga

DJ Nigga Fox

Príncipe

Preço normal €20,95

Taxas incluídas.

O acessório na música que faz os discos existirem tem nos últimos anos uma importância que atinge o ridículo. É guloseima para capricho de coleccionador mas há limites que fervem a paciência. Começa-se com um pensamento negativo para entrar num positivo: desde 2011 que a Príncipe tem mostrado como tornar o acessório em algo absolutamente relevante. É: somos suspeitos. Mas que se lixe, às vezes é preciso falar de nós. O artwork, melhor, a arte do Márcio (Matos) é uma parte importante do imaginário que a Príncipe ocupa. Ele será o primeiro a dizer que o que importa é a música – e é, porque sem música o trabalho dele na Príncipe não existiria –, contudo a imagética da editora é um elemento forte e indispensável quando se pensa na Príncipe. Quando estivermos fartos de falar disto para nós, ou seja, quando a História passar por aqui, a “arte da Príncipe” ocupará um lugar único no artifício de imaginar símbolos que representem uma identidade.


Ao fim de vinte e sete edições, há mais uma fuga à norma do artwork da editora. Acontece novamente com um disco de DJ Nigga Fox (lembram-se de “15 Barras”?). Deve-se olhar para a capa de “Cartas na Manga” como uma capa em branco, com uma série de símbolos desenhados pelo Márcio que foram depois utilizados para tornar cada capa num objecto único. Se a tinta das capas desenhadas à mão tende a desaparecer, realçando que as coisas têm um tempo limitado e que não há problema em desaparecer, a de “Cartas na Manga” vai ganhar vida própria de mil maneiras. O quão brilhante isto é em tempos de propostas aleatórias? Procurem vocês a resposta.


Agora a música. O quinto lançamento de DJ Nigga Fox, o quarto na Príncipe, mostra-o pela primeira vez em território de sensualidade sem terror, confusão e suor. A irregularidade e a insatisfação pela norma continuam lá, mas há em “Cartas na Manga” uma sofisticação em pensar como a música toca o ouvinte e o seduz. Mais lento e pensado, o que falta em devaneio e correria, está concentrado numa aprendizagem contínua que se tem cristalizado na forma como DJ Nigga Fox racionaliza a música de dança. Não a que por aí anda. A sua. Isso existia no anterior 12” na Warp, “Crânio”, um passo intermédio quer serviu para assimilar as ideias que aqui são consolidadas. “Cartas na Manga” é, se quisermos, o disco maduro. Já não é um 12” onde os beats eram tão frenéticos e descontentes que nos agarravam à pancada. É um álbum, uma reunião de ideias de quem viu muita pista (de cima e de baixo) e de quem percorreu meio-mundo para perceber que seis anos depois de “O Meu Estilo”, o estilo é agora um estilo. Sem “Cartas na Manga”. Só trunfos. Essencial como o ar.