cLOUDDEAD
cLOUDDEAD
Limited edition of 300 copies.
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O mundo encantado de cLOUDDEAD surgiu pela primeira vez, de forma mais ou menos dissimulada, sob o elusivo formato 10". Foram seis os primeiros dez polegadas que principiaram o que hoje podemos chamar de "cloud rap", termo que entrou em voga mais de uma década depois, mas cujas pegadas começaram aqui - Odd Nosdam, o beatmaker que mais tarde se celebrizou em carreira a solo, mostra o seu ouvido treinado na apresentação de batidas lo-fi sobre samples de ambiências oníricas, planantes e carregadas de fumo, onde não há melodias óbvias nem refrães que ficam no ouvido - há antes um amor pela música ambiental, por hip-hop e pela possibilidade de cruzar dois mundos aparentemente díspares. Traduzindo som para imagem, a música aqui é tal e qual a capa que a apresenta. Os rappers Why? - que mais tarde irrompe também no seu projecto homónimo de rap misturado com indie rock - juntamente com Doseone, inventam rimas abstractas, em flows que devem tanto à cantiga como ao improviso spoken-word. Delírios intangíveis sob a forma de flows inumanos, sempre na ilustração de temáticas que, por vezes, nos ultrapassam - são tantas as metáforas e as vias alternativas para chegar a uma crítica ao consumismo na "Apt.1" que fica difícil não recorrer aos inputs do Rap Genius para perceber o que se está aqui a passar. Instrumentalmente, desde as manipulações em fita que Odd Nosdam procura com o seu gravador de quatro pistas Tascam (os sons em reverso, tal como os pads de saturação estaladiça, vêm todos daí), aos elementos de cariz mais ambiental que podiam figurar num disco de William Basinski, aos samples de bateria accionados no SP-404, são principalmente os beats que fazem o som de cLOUDDEAD ser tão especial. Em "Cloud Dead Number Five", perdemos o norte quanto a se isto é um disco de rap ou não - é evidentemente algo que transcende a noção de rap e que empurra o hip-hop para novos caminhos ainda por cartografar. Influente como poucos, na sequela dos primórdios criptografados da internet e na iminência das primeiras paranóias dos mundos ciberdigitais e transumanistas - a influência deste disco ainda hoje é óbvia. Um trilhador de mundos, não há - mesmo - nenhum disco assim. 20 anos depois, continua a soar tão fresco como a primeira vez. Reedição de passagem absolutamente obrigatória.