Obra Electroacústica 1969-1981
Eduardo Polonio
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Um dos maiores deleites da electrónica dita pioneira, melhor, pelos compositores de música electrónica que estavam presentes no momento em que se deram esses avanços - sejam tecnológicos ou criativos - é a percepção da experimentação enquanto se ouve. Mais do que procurar harmonias, razões, é o acto do risco que dá maior prazer. A experimentação de ambiências, de sons- e combinação de sons - e, sobretudo, a sensação de suspensão. É a ideia de ver um laboratório em movimento e nós estamos do outro lado do vidro, com a excepcional diferença de que ao ouvirmos, somos também parte dessa experiência. Ela foi feita para nós. Eduardo Polonio (1941-2024) é uma das figuras principais da criação electroacústica espanhola do século XX. Entre diferentes estúdios entre Madrid e Barcelona, criou peças de improvisação que ligavam a sua experimentação com a tecnologia e a tentativa de fazer evoluir essa experimentação para os territórios da música que o fascinava: fosse jazz ou rock psicadélico. Ouvido agora, a música de Polonio coloca-nos como testemunhas desse tempo, ingénuos ouvintes que andam à procura da estética onde a estética até poderá não existir: como uma luta sem propósito, onde ficamos rendidos ao poder da suspensão. “Oficio” ouve-se como Rafael Anton Irisarri décadas antes deste ter sequer pensado pegar numa guitarra. Isto importa porque é a tal ideia de suspensão, da tentativa que não leva ao erro, mas à impressão de uma ideia. Esta compilação do trabalho de Eduardo Polonio é um belíssimo registo de um processo de plenitude que só é garantido pelo tempo. Ouvimos aqui um extenso futuro sonoro que, décadas depois, aconteceria à nossa frente.