Journey In Satchidananda
Alice Coltrane
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Haverá linha de baixo mais icónica, ou início mais marcante, do que os primeiros minutos do primeiro tema de Journey In Satchidananda? É inolvidável. Line-up de luxo, onde o baixo de Cecil McBee (o solo em "Something About John Coltrane" é arrebatador), a habilidade de Alice Coltrane no piano e na harpa e o saxofone de Pharoah Sanders produzem alquimia musical pura (a entrada de sopros no primeiro tema causa arrepios, tal como as notas melosas pelo início de "Stopover Bombay", que evidenciam a plenitude de Sanders, expondo ainda laivos de força bruta em "Something About John Coltrane"). Não há muitos discos assim, misturando várias influências de forma tão coesa e honesta, resultando numa exploração sem rédeas com resultados inauditos e de qualidade irrepreensível. A sinceridade espiritual aqui é palpável: ficamos com a sensação de estarmos a assistir a um happening com valor transcendental, onde cada nota tocada é uma expressão de alívio e onde o improviso age como o abafamento do "Eu", influências que Alice Coltrane retirou das suas viagens pela Ásia, África, e pelos ensinamentos do guru Swami Satchidananda. A Tambura, tocada pela instrumentista Tulsi, encontra-se sempre presente no disco, contribuindo ainda mais para o efeito lisérgico, transcendente da música. Nota também para a bateria de Rashied Ali, mais contida e regrada em comparação ao último registo de John Coltrane em estúdio (Interstellar Space, um dos favoritos aqui da casa). Música no seu estado mais puro, sincera nas suas emoções e devaneios, alquímica nos seus efeitos. Conversas espontâneas, genuínas, numa continuação do legado espiritual que John Coltrane havia começado com Alice. Música que desarma e que emociona, que nos torna mais vulneráveis, mais humanos. Reprensagem de 2023 a um preço imbatível. Se há discos de escuta obrigatória, este é um dos prioritários..