FLUR 2001 > 2024



En Transi

Druuna Jaguar

Variz

Preço normal €31,00

Taxas incluídas.

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Sem fazer discos ao acaso e sempre com objectos de estudo em mente, Druuna Jaguar é um dos maiores enigmas musicais de Portugal. Cada disco é uma vontade manifesta de agarrar um momento, ultimamente sempre pela via do som contínuo, como drones, reverberados e arrastados até à sua exaustão, testando a atenção do ouvinte mais desregrado - há sempre essa ilusão de que nada (ou pouco) muda, mas é nas pequenas nuances deste som que se distinguem os verdadeiros movimentos dos falsos. Druuna Jaguar, numa das suas mais recentes edições, sob o título "Musa Utópica", pretendeu ilustrar a sedução feminina, a força do desejo e do seu objecto, a inspiração sem clímax em vista. "En Transi" parece mais um retrato da frustração que advém dessa intangibilidade. Porém, tudo passa. No lado A, "Post Coitum Omne Animalium Triste Est" esconde a vulgaridade do coito no latim e num drone tímido que se vai revelando e abrindo, com bordas ásperas, com suspensão insistente e sem grande preocupação quanto ao nosso desconforto - a natureza, e o que é natural, são muitas vezes desconfortáveis. Os tons multiplicam-se, tal e qual uma abertura de canais de luz num túnel umbroso. A meio do percurso, o drone vibra vagarosamente, qual sensação do simulacro do terramoto a abalar as nossas quatro paredes - até que irrompe uma nota grave, retumbante, o obstáculo definitivo da nossa transição para um segundo estágio. Pelo lado B, Druuna Jaguar recorre ao drone de um violoncelo (ou o rizoma de um) para ilustrar a morte e outros elementos de carácter mais lúgubre. "In Umbra Mortis" mostra os harmónicos naturais deste instrumento numa reverberação prolongada, revelando luz, cor e esperança, mantendo os olhos do ouvinte na mira do chão e num acto de respeito e reverência contemplativa. "Adverso Infracto" revela síntese generativa numa aleatoriedade controlada, com uma nota grave suspensa por trás dessa confusão electrónica a ancorar o tom do tema lá no fundo. No fim do disco, "Saturata Dolorem" apresenta de novo um drone agudo e áspero, como uma incisão de uma faca fria, fazendo jus ao título da música. “En Transi” não foge à verdade e apresenta um mundo que é próximo de todos aqueles que vivem e respiram - é nos temas mais mundanos que se encontram as maiores verdades. Tal como a capa que o representa, a música ilustra o momento em que a vida começa a desaparecer do corpo vigente, com a sensação diáfana do ar que nos toca nas pontas dos dedos, qual Escravo Moribundo a encontrar na hora da morte o seu tão aguardado clímax.