Loopworks
Koray Kantarcioglu
Editado originalmente em cassete em 2016, “Loopworks” apresenta Koray Kantarc?o?lu’s, artista turco que trabalha frequentemente com som e imagem, que aqui decidiu pegar em samples de discos do seu país natal, das décadas de 1960 e 1970, para criar enigmas sonoros. É fácil cair na armadinha sonora que sugere Leyland Kirby / Caretaker numa primeira audição de “Loopworks”; pela sugestão de “haunted ballroom” ou pelo lado rarefeito do som que parece jogar com o tempo e espaço. A manipulação de Koray é substancialmente diferente, a forma como trabalha os sons, os esticas, repete, mete-os em loop, os destrói em nenhum momento activa o sentimento de memória que é essencial para se conviver com a música de Kirby, por exemplo. Em “Loopworks” os sons procuram a dinâmica de espaço, o assombro de uma nova vida e a beleza de florescer: para ir a extremos, a música de Kirby procura a morte, decadência, o desaparecer, a de Koray a vida, o nascimento, a luz. Esse lado mais luminoso, tão evidente em temas como “263 Loop m v2”, torna este álbum numa raridade, pela escassez com que a memória e o passado procuram um infinito bom de uma forma tão positiva. E, tal como se diz no início, cada canção é um enigma sonoro, mais do que “ambiente” ou uma exposição diferente de “field recordings”, “Loopworks” é uma mensagem encriptada de palavras (ou sons) bonitas com a melhor luz de inverno. Se ainda andam a dormir com as edições da Discrepant, este é um bom momento para acordar: alguns dos discos mais ambiciosos de 2018 que vivem nos limbos da electrónica têm o selo da Discrepant. Só neste mês saíram duas raridades, este “Loopworks” e o assombroso “Tropical Gothic” de Mike Cooper.