Blue Alibi
Mica Levi
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Seja qual for o ponto de encontro - ou reencontro - com a música de Mica Levi, ocorre aquele momento em que se tem de percebe de onde veio, por onde passou, o que fez, onde está (ou ao que vamos) e não dá para pensar no futuro. Entre esses pensamentos, há que lembrar que é compositora de bandas-sonoras (com prémios na prateleira), com uma formação clássica e que acabou com o mito do "não é o que parece", esse gancho da imprensa para justificar a inovação, o risco. Mica Levi é o que parece, a música que produz - em qualquer nível - é uma tentação e nunca um desafio só pelo desafio. "Blue Alibi" foi editado primeiro digitalmente - e depois em formato físico - já em 2021, depois de um inesperado "Ruff Dog" no ano anterior. Aqui colabora a full time com os Curl (colectivo que criou com Brother May e Coby Sey) e desfaz géneros, entre o grunge, o jazz, o indie americano dos 1990s e imensas formas de DIY que entraram na música popular nas últimas 3 décadas. "Blue Alibi" enfia a cabeça no brexit, na quarentena e na introspecção de que se vive quando ainda se está com a cabeça nestas coisas: ou seja, ela (a instrospecção) não existe (impossível numa cabeça em cacos). Álbum de quatro paredes, enfiado em desilusão, paranoia, desagregação e um intenso sabor de não-salvação. A falta de esperança é uma experiência em si, um dedo do meio para o vai ficar tudo bem. Porque às vezes, dentro da cabeça, não vai não. Elaborado, multifacetado e em sintonia com a realidade, em desacordo com negação dessa realidade. Brilhante. Para ecoar na cabeça daqui para a frente.