Animais Sintéticos
Tropa Macaca
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Aerossol
Delicado início em "Animais Sintéticos", anuncia uma presença orgânica do som, não tanto em forma de paisagem e sim de convivência entre espécies. Na transformação constante da música e das noções estéticas de som produziu-se riqueza genética suficiente, em décadas de crescimento e miscigenação, para que se chegue à Tropa Macaca com individualidade. Aqui, Joana da Conceição e André Abel parecem cuidar da emissão de som em diálogo atento. Mas a "reconciliação" de que se fala no texto alusivo à exposição na galeria gnration (Janeiro-Abril 2022) não é dos sons entre si e não é das respectivas abordagens dos artistas. É antes uma reflexão empírica (porque concretizada) sobre um rumo desejado, caminho entrevisto e já a ser trilhado, transformador, "entre a promessa e a ruína", um baile do fim do mundo com um novo começo à vista.
Invertendo processos criativos, "Aerossol" (música) foi o ponto de partida para uma exposição homónima de Joana da Conceição nos estúdios PADA (Setembro-Outubro 2020). Seguindo a peça, assistimos à instalação progressiva de uma espécie de desassossego, quase um protesto, uma expressão literalmente mais aguda, abrasiva, exigente de atenção. A música evolui assim em diálogo interno de forças que, por momentos, soam antagónicas, até se entender que nesse diálogo se forja o princípio fundamental do equilíbrio e do entendimento. Comentário subjectivo em relação ao mundo que atravessamos, mas também é legítimo observar que é o mundo que nos atravessa, desregrado, e gera reacção. Acomoda-se nesta obra um sentido que é catarse, sim, e talvez se assemelhe a uma navegação assumida do caos, ver o que dá, entender o progresso enquanto o progresso se dá.