Inland Empire (Império Interior)
V/A
Inland Empire (Império Interior), ou a última pincelada num tríptico que espreitou estrelas, semeou ventos e, por fim, buscou os limites geográficos de um país. Passando por cima da óbvia referência lynchiana, o derradeiro dos compêndios da Wasser Bassin dedicados à música experimental produzida em Portugal traz a lume as abstracções electrónicas dos Caranguejos, um duo algo obscuro e seguramente esotérico, formado por Tam e Miguel Sá, com arraiais firmemente assentes na Praça-forte de Almeida. Os inquietantes uivos de “Alcateia” culminam, estranhamente, no langor de “Rua do Marvão”. Dos confins do Douro ou, se assim preferirem, dos primórdios da Beira, chegam-nos os zumbidos irreverentes de Ehxispê, alter-ego criativo de Rodrigo Vieira, um nativo da Mêda, mas cidadão universal do espectro sonoro. Tanto “Melo, É Tudo Mentira” como “Zé Elves” são temas impregnados da mesma austeridade de Andrew Mackenzie ou do rigor das gravações de campo de Chris Watson. Nas margens do Côa, em vez de gravuras rupestres, distinguem-se os saudosismos warpianos dos Folclore Impressionista, trio de veteranos recolectores de sons e paisagens, composto por João Paulo Daniel, Sérgio Silva e António Caramelo. O trilho proposto por “Walk IV” oscila entre a memória duns Boards of Canada e a delicada intemporalidade dos Broadcast.
